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Cláusula secreta deixa acionistas da Marfrig insatisfeitos

Termo possibilita que investidores minoritários da National Beef exijam que a Marfrig compre suas ações no futuro
Por: 
Bloomberg, adaptado por Portal DBO.
29/08/2018

A divulgação de uma cláusula que obriga a Marfrig a adquirir – a preço de mercado e daqui a cinco anos – as ações de investidores minoritários da National Beef deixou os acionistas da companhia brasileira insatisfeitos, informa a Bloomberg em reportagem. A compra da National Beef foi bem recebida na época do anúncio, pois indicava uma melhora nos indicadores de alavancagem da Marfrig, reduzindo a relação dívida/Ebitda (lucros antes dos juros, impostos, depreciação e amortização). Agora, os acionistas temem que a cláusula possa ter efeito contrário. Nos termos do acordo, os detentores dos 49% restantes da National Beef poderão, depois de 2023, exercer o direito de venda de suas ações a preço de mercado e “em uma proporção anual máxima de ⅓ da participação total em mãos dos minoritários”, informa a Marfrig em comunicado. As opções deverão ser pagas em até 180 dias caso exercidas. “A opção de venda garante a manutenção da atual estrutura acionária e da liderança da companhia durante o período de lock up de 5 anos”, garante a empresa.

 

A cláusula nunca apareceu nos informativos divulgados pela Marfrig desde o anúncio da compra em abril e ganhou destaque apenas após relatório da S&P Global Ratings na semana passada. Com a descoberta, investidores temem que a relação dívida/Ebitda continuará alta mesmo após a venda da Keystone pela Marfrig na semana passada. Embora a empresa tenha se comprometido a reduzir sua dívida líquida a 2,2 vezes o Ebitda, a S&P Global Ratings acredita que essa relação deve ficar próxima de 4 entre 2018 e 2019. “Isso é muito ruim”, disse Soummo Mukherjee, analista da Mizuho Securities USA em New York à Bloomberg. Para ele, a falta de transparência sobre a cláusula se junta a um histórico de problemas de governança de empresas brasileiras do setor que minam a confiança dos investidores.

 

Segundo o vice-presidente de finanças da Mafrig, José Eduardo Miron, a intenção nunca foi esconder informações dos acionistas. A cláusula estava protegida por termo de confidencialidade até que a maior acionista minoritária, a Leucadia, foi obrigada a divulgá-la. Miron ainda disse à Bloomberg que é improvável que muitos acionistas decidirão vender suas ações daqui a cinco anos. “O acordo da National Beef é um negócio de longo prazo. Qualquer possível saída ocorrerá de uma maneira muito disciplinada”. Em comunicado, a Marfrig ainda ressaltou que do total da participação dos minoritários na National Beef, 15% pertencem a pecuaristas com contratos de fornecimento de longo prazo com a companhia.

 

Da divulgação do relatório da S&P até sexta-feira, 24, as ações caíram 3,7%. As participações caíram ainda mais nesta terça-feira após publicação de fato relevante pela companhia anunciando aditivo no acordo entre acionistas com política de redução da alavancagem. O documento cria restrições à remuneração dos investidores e à compra de participações acionárias caso não cumpra a meta de ter índice de dívida líquida/Ebitda inferior a 2,5 vezes em 31 de dezembro de 2018 e de 3,5 vezes nos trimestres posteriores.