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Antibiótico deve ser usado de forma racional

Antes de utilizar, o produtor deve ter certeza de que o animal realmente precisa receber a medicação.
Por: 
Portal DBO
22/09/2018

Considerados fundamentais para o tratamento de doenças infecciosas que atingem o gado leiteiro, os antibióticos não devem ser utilizados a torto e a direito. “O uso deve ocorrer exclusivamente para o tratamento de vacas doentes. Utilizar antibióticos sem necessidade real aumenta o risco de o animal desenvolver resistência, reduzindo a eficácia quando houver necessidade de usá-los”, afirma o professor Marcos Veiga dos Santos, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.Sua opinião é endossada pela professora Carla Maris Machado Bittar, do Departamento de Zootecnia da Esalq/USP. “Antes de usar antibióticos, o produtor deve ter certeza de que o animal realmente precisa receber a dose. Vemos que o uso muitas vezes é realizado sem nenhum critério, tanto nas vacas como nos animais em crescimento.”Além do risco de desenvolvimento de resistência ao medicamento, Santos afirma que durante e após o término do tratamento, tanto o leite quanto a carne apresentam elevada concentração de resíduos dos componentes do remédio. “Sendo assim, é importante respeitar o período de carência, que varia conforme o produto e está especificado na bula. Durante esse prazo é necessário realizar o descarte do produto, porque há risco à saúde.”

 

Resíduos
Os resíduos de antibiótico no leite são prejudiciais à saúde humana por duas razões principais, diz Carla Bittar: reações alérgicas em uma parcela da população que apresenta hipersensibilidade a determinados grupos de antibióticos como penicilinas e sulfas; e pelo risco de desenvolvimento de resistência, assim como ocorre com os animais.Segundo Veiga dos Santos, outro problema causado pelo leite com resíduos do medicamento é a alteração na fabricação de derivados lácteos fermentados, como iogurtes e queijos. “Atualmente, as empresas de laticínios fazem testes rápidos de triagem para detectar resíduos de antibióticos em todos os lotes de leite recebidos, usando como referência limites legais estabelecidos na legislação.”A legislação brasileira segue os limites de tolerância de resíduos de antibióticos definidos internacionalmente pelo Codex Alimentarius, da FAO/OMS. “Produtores que não respeitam o período de carência dos antibióticos correm o risco de ter prejuízos em razão da perda do leite enviado ao laticínio, além do risco de terem de pagar pelo leite de outros produtores que tiveram o leite contaminado com resíduos.”

 

Santos conta que de 80% a 90% da ocorrência de resíduos de antibióticos no leite acontece, principalmente, durante o tratamento de mastite. (inflamação da glândula mamária causada, normalmente, por bactérias). “As boas práticas de produção de leite seguro e de alta qualidade determinam a necessidade de ter recomendação de veterinário para o uso de antibióticos, bem como a anotação rigorosa das vacas tratadas, duração do tratamento e período de descarte, incluindo o descarte no período de carência descrito na bula.Carla afirma que muitos produtores oferecem esse leite aos bezerros. “Nesse caso, o que fazem é transferir o problema ao bezerreiro”, diz a especialista em nutrição de bezerros. A professora afirma que tal ação causa muitos problemas. “Além de ser um leite de baixa qualidade, tem alta carga microbiana, resíduo de antibiótico e não possui os mesmos nutrientes que o leite saudável. Ao ingerir esse alimento os bezerros têm diarreia, o que obriga o produtor a gastar mais para tratar o novo problema. É uma bola de neve que vai crescendo dentro do sistema como um todo. Os produtores precisam resolver o problema na sala de ordenha, para reduzir ao máximo a ocorrência de mastite.”Santos também considera como prioridade para o controle de resíduos de antibióticos a adoção de medidas preventivas para evitar a mastite. “Quanto maior o sucesso na prevenção, menor a necessidade de uso de antibióticos. Também é essencial não utilizar produtos que não sejam indicados às vacas em lactação.”“Alguns produtores oferecem o leite de descarte às bezerras mais velhas, que têm intestino mais maduro e maior imunidade para lidar com a carga microbiana, mas não é o ideal”, diz Carla. “Outros produtores realizam processo de pasteurização, ou fornecem somente para os machos. Mas o recomendável é o descarte total.”

 

Descarte correto
De acordo com o professor Marcos Veiga dos Santos, o leite de descarte deve ser depositado junto com os demais dejetos orgânicos e de limpeza, de acordo com o sistema de tratamento de dejetos da fazenda. “De forma geral, as propriedades usam um local de armazenamento de dejetos e após fermentação aeróbica, podem ser usados como fertilizante. O leite de descarte não gera contaminação no ambiente em razão da presença de resíduos de antibióticos, mas sim pela presença da matéria orgânica do leite.”O professor diz que há no mercado antibióticos injetáveis com descarte zero. “Quando usados na indicação de bula e na dosagem recomendada apresentam resíduos dentro dos limites permitidos. No entanto, para o tratamento de mastite clínica leve e moderada, não existe antibiótico intramamário com descarte zero.”