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“A China está fazendo compras em ondas”, diz Miguel Goulart, diretor-presidente da Marfrig.

Saiba o que o executivo espera para o mercado exportador e doméstico de carne bovina até a virada de 2020.
Por: 
Portal DBO
02/05/2020

Até o final de 2020, as exportações de carne bovina devem seguir em forte ritmo. Enquanto isso, no mercado interno, o consumo dessa proteína animal deve ficar concentrado, agora com mais força, entre os dias 1 e 15 de cada mês. E o movimento do food service voltará, com o delivery substituindo uma parte do consumo presencial nos restaurantes. O cenário acima foi descrito na tarde do dia (27/4), por Miguel Goulart, diretor-presidente da Marfrig, em uma live aberta ao brodcast do Estadão. “Esse é um jogo que a gente estará assistindo o ano todo”, disse Goulart.Mas será o ritmo das exportações que deve pontuar o mercado e reger o humor da indústria na compra do boi gordo. Isso porque o dólar valorizado, e sem previsão de cotações abaixo de R$ 5,00, tem levado negócios vantajosos à indústria.Lygia Pimentel, especialista em mercado de boi e diretora da consultoria Agrifatto, concorda em parte com Goulart. “Os ganhos com a China, nos meses de abril, maio e junho devem ser neutros, para compensar os meses de janeiro e fevereiro, onde houve renegociação de contratos por parte desse país”, diz ela. “A partir daí, o mercado retoma.”

 

Não por acaso, somente a China respondeu por cerca de 35% das compras de carne bovina em março, com 51,86 mil toneladas. O salto foi 108% acima, ante as 24,9 mil toneladas adquiridas em março de 2019, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). “A China deve continuar comprando porque precisa refazer seus estoques, por conta da Peste Suína Africana”, afirma Lygia. “Esse país deve comprar 40% da carne brasileira.”

No caso da Marfrig, de acordo com Goulart, quando começaram os movimentos especulativos no início do ano, os contratos com a China não tiveram preços renegociados para baixo. “O que fizemos foi postergar as entregas para abril e maio”, diz o executivo. Em janeiro, a tonelada de dianteiro despencou de US$ 6.200 para US$ 4.000 em fevereiro. Agora, a média está em US$ 5.200 a US$ 5.300 por tonelada, de acordo com o executivo. “A China está fazendo compras em ondas”, diz ele. “Numa semana fecha e na outra semana somente toma preços.”

 

Lygia afirma que de modo geral, os preços estão ainda mais pressionados nos últimos dias, indo a US$ 4.800 a tonelada. “Na atual crise mundial, a previsão de queda do Produto Interno Bruto dos outros nove maiores importadores de carne bovina do Brasil deve ser de 3%,  segundo o FMI”, afirma ela. “A China, que compra volume e negocia, estava pagando acima dos melhores pagadores, que são países menores e com mais margem de manobra em seus mercados internos”. São exemplos mercados como o Egito, Arábia Saudita e Chile, entre outros. Para ela, a demanda desses países também deve influir, dando espaço para a China reagir nas negociações. “Mas, novamente, como a indústria brasileira trabalha com o dólar valorizado, mesmo com esses mercados em baixa, o desempenho do setor vai ser positivo em 2020.”